O TRATAMENTO TÉRMICO DA AMETISTA: ALTO BONITO, GARIMPO DAS PEDRAS, CARAJÁS, PARÁ

Maria Jacqueline Rodet, Déborah Duarte-Talim, Clóvis Maurity, Carlos Teles, Marcos P. Magalhães

Resumo


No início dos anos 1980, um grupo de garimpeiros se instala na fazenda Alto Bonito, município de Marabá (região da Serra dos Carajás, Pará), onde foi descoberta uma expressiva ocorrência de cristais de ametista. Inicia-se a exploração da ametista e sua transformação térmica, por aquecimento, em citrino. Desde a pré-história, os grupos humanos que frequentaram a Serra dos Carajás utilizam os cristais prismáticos de quartzo hialino e de ametista, que foram, frequentemente, transformados por calor em citrino (Rodet 2015; Magalhães 2016; Rodet et al. no prelo). Os principais objetivos deste trabalho são: compreender as cadeias operatórias de exploração e transformação térmica atual da ametista, com ênfase nas escolhas, técnicas, métodos e instrumentos utilizados para, finalmente, relacioná-las com a pré-história. Esta é, de fato, a primeira vez que observamos o tratamento térmico sobre indústrias líticas nos sítios pré-históricos brasileiros. Por outro lado, poucos são os grupos atuais que ainda o lascam e, raríssimos, são os grupos que utilizam tratamento térmico para transformar
rochas ou minerais. Nesse sentido, na região de estudo, existe um grupo de garimpeiros que explora, lasca e trata termicamente a ametista, transformando-a em citrino. Para melhor compreender como o processo é realizado atualmente (e também no passado), pareceu-nos importante fazer um trabalho junto a tal grupo. Para isso, a pesquisa etnográfica consistiu em visita às comunidades garimpeiras, além de entrevistas sobre as diversas etapas do processo produtivo. A orientação teórica do trabalho baseia-se nos conceitos de cadeia operatória, no estudo das técnicas e dos gestos, além das questões de gênero que envolvem a produção (Mauss 1947; Leroi Gourhan 1964; Inizan et al. 1995; 2017; 2017; Roqué-Rosell et al. 2011; Pelegrin 2011; Bruschini 2007). Os resultados levaram à compreensão das intenções das produções, das técnicas e do instrumental do lascamento moderno, do tratamento térmico e da divisão do trabalho. A comparação com as indústrias pré-históricas permitiu um melhor entendimento dessas últimas.


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